Embora ainda sem regulamentação formal desde 1988, a profissão do Histotecnologista ou histotécnico tem-se tornado cada vez mais relevante no cenário laboratorial frente as novas conquistas e inovações técnico-científicas do segmento.
Nos EUA a certificação como histotécnico está disponível pela Sociedade Americana de Patologistas Clínicos (ASCP) mediante avaliação de credenciais acadêmicas, experiência clínica mínima de 100 horas e exame escrito. Após a conclusão bem-sucedida do exame, o técnico certificado pelo ASCP pode usar o HT como uma designação profissional, valorizando sua jornada profissional e permitindo o desenvolvimento frente aos desafios do laboratório de histologia moderna, com capacitação para as técnicas de imunohistoquímica (IHC), patologia digital e molecular (DNA/RNA), cada vez mais frequentemente utilizadas para uma identificação mais precisa de tumores e outras patologias, integrando-se assim, a cadeia diagnóstica com auxílio ao corpo clínico na seleção de uma estratégia de tratamento com maior probabilidade de cura.
Para divulgar e homenagear esse relevante profissional da saúde, aproveitamos a celebração do DIA DO HISTOTÉCNICO nos EUA, 10 de março, para conversar aqui com o Histotécnico JOAQUIM SOARES DE ALMEIDA, atual tesoureiro e ex-presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Histotecnologia) nos períodos de 2010-2012/2012-2013/2018-2019:
Conte-nos um pouco de sua trajetória:
Em 1985 prestei concurso na Escola Paulista de Medicina para técnico de necropsia e me dediquei a área de histotecnologia, onde a técnica era praticamente artesanal, com sistema de processamento bem arcaico, inclusão com fogo em bico de bunsen e cortes em micrótomos totalmente manuais. Para realizar os cortes histológicos precisava adaptar aos micrótomos, as navalhas de aço medindo 30 cm de comprimento, onde o risco de um acidente era iminente.
Com o passar do tempo o corpo técnico de histologia e os patologistas no mundo todo começaram a se preocupar em trazer a tecnologia para esta área, deixando de lado os serviços artesanais e entrando em um novo mundo automatizado. Eu por exemplo sempre me mantive atualizado em histotecnologia, então consegui sentir toda essa mudança. Afiliei-me a SBH (Sociedade Brasileira de Histotecnologia) e em 2010 fui eleito presidente da Sociedade, atuando como presidente nos Biênios 2010-2012, 2012-2013 e 2018-2019. No primeiro ano da presidência da SBH, fui informado sobre um projeto de reconhecimento da profissão do histotecnologista. Através de alguns políticos de Brasília, conseguimos voltar a tramitar este projeto de Lei Nº PL. 2090- 1991, que hoje está na câmera dos deputados em Brasília. E assim continuo contribuindo no cargo de tesoureiro na SBH”.
O que faz um histotécnico e como você foi atraído para esta área?
Na área do laboratório de patologia, o técnico de histotecnologia é o profissional que analisa as amostras em tecidos que pode ser, humano, animal ou vegetal. Este profissional, prepara estas amostras através da realização de várias etapas que começam com a clivagem do material, passando pela fixação, hidratação, diafanização e impregnação em parafina, para a finalização da inclusão do material em blocos de parafina que serão utilizados posteriormente para cortes histológicos e corados em HE (Hematoxilina e Eosina), para análise das estruturas por técnicos, pesquisadores e/ou médicos. Essas amostras também poder ser coradas com outros corantes diferentes de acordo com a estrutura a ser pesquisada.
Como o trabalho do histotécnico impacta no diagnóstico em Patologia Cirúrgica?
Acredito ser um trabalho que requer muita dedicação e aprendizado, para que não ocorram erros. A tecnologia nesta área tem aumentado a cada dia e tem nos ajudado muito na rastreabilidade na maioria destes processos. Como o diagnóstico depende, entre outros fatores, da qualidade do processamento da amostra, é fundamental que os histotécnicos realizem com excelência as principais etapas do processamento histológico para a produção do material a ser lido e interpretado por um Patologista.
Na sua opinião, quais foram as principais mudanças na área nos últimos 10 anos?
Estamos em constante desenvolvimento e evolução, o técnico de histologia que não procurar se atualizar, vai deixar de existir, pois com as novas exigências da ANVISA e outros meios de controles de qualidade, não será mais possível trabalhar em certos laboratórios, profissionais que não tenham treinamento com certificação.
Na sua opinião, qual o futuro do profissional que escolher hoje ser Histotécnico e quais os conhecimentos e habilidades que ele deve buscar para a sua formação?
O futuro de quem procura trabalhar com histotecnologia é garantia de emprego, infelizmente temos poucos profissionais nesta área. Seria interessante que os formandos em biologia, biomedicina e farmácia, explorassem mais a área de histologia, para estarem mais preparado para a histotecnologia, desde como é feito a coleta até a biologia molecular e muito mais.
Esta entrevista é nossa homenagem a todos os profissionais de histotecnologia, sem vocês o diagnóstico nunca seria possível!